quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Nesse domingo vai rolar um encontrinho de tribal aqui em casa. Estou muito feliz por isso. Acredito que nós dançarinas temos aproveitar que a cena em São Paulo, e até mesmo no resto do Brasil, está começando a crescer agora e que ainda existe a possibilidade de nos conhecermos e integarirmos mais e é essa a idéia da festinha... Nos conhecermos melhor, trocar, dançar juntas e assim celebrar a vida, celebrar o fato de termos recebido o chamado da dança, que nos faz mulheres tão melhores, tão felizes... =)

O Tribal tem a proposta de resgatar, e nesse resgate, a convivência entre mulheres, que nas tribos e comunidades estavam sempre juntas, trocando e crescendo juntas, mas que hoje em dia encontram-se afastadas. Assim perdemos aos poucos a vivência de irmandade que deveria existir entre todas nós, principalmente entre aquelas que já possuem algo tão comum e profundo, no nosso caso o amor pelo tribal, o amor pela dança.

Convivência essa que não deve se limitar a momentos de treino nas aulas e apresentações, mas nos momentos de descontração e principalmente de celebração.

No Método DeRose existe um princípio muito importante chamado egrégora, ou sentimento gregário, algo que une a todos aqueles que tem um interesse comum. A egregóra sempre vai existir quando pessoas se unirem com esse objetivo em comum, ou seja, surge de forma involuntária, mas pode também ser formada conscientemente. Inevitávelmente a egrégora das dançarinas já está ganhando vida, e podemos ser atuantes nesse nascimento, fazendo com que ele cresça cheio de belos valores e ideais, para que assim, a presença da energia criadora e feminina esteja sempre conosco, cada vez mais vibrante!

Tenho certeza que será um momento muito legal e fico feliz por estar de alguma forma ajudando a construir isso!

Eu sei que o blog é novo, mas caso você leia esse post esteja em São Paulo e se identifique com o que eu escrevi, sinta-se convidada =)


O início

Minha intenção ao criar esse blog é dividir minhas percepções sobre tudo o que se relaciona ao universo feminino, em especial a dança, que no meu caso, foi o meio pelo qual a essência feminina, a presença de Shakti, despertou em mim.

Meu nome é Marilia Botton Lins. Sou dançarina e professora de dança do ventre. Dança do ventre no sentido literal da palavra: a dança que vem do âmago do meu ser feminino, de onde todos os movimentos surgem e terminam num contínuo fluir da energia pelo corpo, pela respiração, pelas emoções, mente até que novos estados de consciência daí possam brotar. Nesse sentido diria que a modalidade que sigo relaciona-se com o Tribal Fusion, um estilo que se originou do ATS (American Tribal Style).

O ATS é um estilo de dança idealizado por Caroleena Nericcio, fundadora do grupo Fat Chance Belly Dance, e sua proposta foi resgatar o que a dança do ventre possui de ancestral e forte, a dança do ventre feita pelas mulheres de tribos de outrora e de hoje também. Um intenso estudo foi feito por Caroleena e sua trupe, bem como por outras dançarinas com o intuito de resgatar esses movimentos e suas execuções, seus significados, e também a composição do figurino, que apesar de não ser de nenhuma tribo ou etnia específica reúne elementos de várias culturas, dessa forma, sempre possuindo um significado por trás de um acessório eventualmente utilizado para compor o visual. O tipo de música utilizado pelo ATS é aquele som que nos remete a áreas do inconsciente coletivo relacionada a um oriente longínquo e antigo, com e melodias sinuosas e com percussão marcada, que ajudam sem dúvida a acessar o arquétipo dessas dançarinas que foram passando de mãe para filha sua arte. O Helm é um grupo de músicos que caracteriza muito bem esse estilo.

Fat Chance Belly Dance ao som de Helm



O Tribal Fusion surge no momento em que algumas dançarinas, como Rachel Brice, utilizando-se desses elementos do ATS decide fazer algo diferente, adicionando elementos modernos a toda essa ancestralidade. Dentre esses elementos modernos podemos ressaltar a inserção de movimentos originados de danças como o hip hop, e também um tipo de música contemporâneo com elementos eletrônicos, o Beats Antique é um grupo muito conhecido pelas dançarinas e representa bem esse novo tipo de som neo-ancestral. Na minha opinião, o Tribal Fusion busca manter esse resgate da ancestralidade porém sem ignorar momento presente, no qual o mundo está totalmente conectado não só no espaço, mas também no tempo. O arquétipo a ser buscado não localiza-se em algum lugar no passado, mas em algum lugar atemporal, no qual qualquer dançarina pode chegar, e para isso, basta que ouça a voz que vem das profundezas do seu ser, pedindo para ser manifestada, seja na forma de se vestir, de se portar, de olhar, de sentir o mundo e a música. Por isso o Tribal Fusion acaba expandindo a possibilidade de liberdade criativa, permitindo o florescimento da dançarina sem que nada do seu ser seja excluído ou deixado de lado na sua eterna construção rumo a esse arquétipo. A primeira grande expoente desse estilo é a Rachel Brice, que segue por uma brilhante carreira influenciando e inspirando a grande maioria das dançarinas que foram encontradas pelo Tribal...

Rachel Brice ao som de Beats Antique



Atualmente também estou em processo de formação no Método DeRose, que pode ser considerado um método de re-educação comportamental, que utiliza técnicas do Yôga Antigo, que após codificação feita pelo Mestre DeRose recebeu o nome de Swásthya Yôga, sendo que Swásthya significa entre outros significados, auto-suficiência, auto superação. O Método DeRose utiliza ainda princípios originários do Tantra, uma filosofia comportamental que já existia e era praticada nas sociedades que praticavam o Yôga a mais de 5000 mil anos atrás. O Tantra possui orientação feminina, em outras palavras, matrifocal, pois a sociedade tinha como foco a mulher, que era quem criava os filhos, quem transmitia a herança às suas filhas. Tal orientação feminina (não feminista!) obviamente implicou em uma forma totalmente diferente de estruturação de princípios e valores. Com a mulher no centro não existia repressão, a sensorialidade era estimulada, e isso levou a uma sociedade extremamente artística e sensível. A mulher por ser capaz de gerar em seu corpo uma nova vida era considerada uma manifestação da presença divina em sua forma feminina, a Shakti e tanto o era, que nas sociedades tântricas as mulheres podem ser chamadas de shaktis. O Yôga Antigo possui claramente essa delicadeza e sutileza feminina, através de práticas feitas em formato coreográfico, no qual o Yôga torna-se praticamente uma dança, com um movimento brotando do outro de forma fluida e natural, porém ao mesmo tempo cheia de força e energia, afinal seu criador foi Shiva Nataraja, o rei dos dançarinos, mas que também é conhecido por sua enorme força e poder.

Demonstração de coreografia de Swásthya Yoga pela Professora Yael Barcesat



Muitas dançarinas além de ensinarem e dançarem o Tribal também estudam e ensinam o Yôga, o que me leva a crer que tais práticas são totalmente compatíveis e complementares, uma auxiliando a outra. A dança trazendo para o Yôga a fluidez e sinuosidade de movimentos e o Yôga trazendo para a dança a consciência corporal e respiratória, a concentração, a força e a energia.

Ao longo dos textos, provavelmente transitarei entre esses dois universos, além de outros, como a natureza feminina, a sensualidade, hábitos alimentares, música, e tudo o que faz parte do meu universo, daquilo que consigo capturar com minha alma feminina e expressar através de atitudes, transformando dessa forma a mim mesma e ao universo ao meu redor.

Espero que gostem...